quarta-feira, 25 de março de 2009

O DOMÍNIO DAS PALAVRAS

(Elias Andreato - foto divulgação)
Hoje vi Doido, espetáculo de Elias Andreato. No cenário quase nada. Uma mesa e uma cadeira. Tinha também alguns adereços, quase nada. Poucos recursos de luz, uma música que abria o espetáculo e outra que fechava. Quase nada de recursos e quase tudo de ator. Palavras. Muitas palavras. Tantas que só quem sabe muito usá-las pode se atrever. Como imagem, a única sacada é o figurino, onde a camisa do ator, no decorrer do espetáculo, vai se transformando em camisa de força.
É bom ver um ator maduro dando aula de como trabalhar com esse abismo que separa o que é dito daquilo que é ouvido. Isso não é para qualquer um não. Elias Andreato fez das palavras de Doido uma música para os nossos ouvidos. Entre variações rítmicas e pronuncias geograficamente determinadas no tempo ele emociona a platéia. Fala de loucura, de amor, de vida e de arte. Na dramaturgia, costurada por ele, fragmentos de Adélia Prado, Vinícius de Moraes, Shakespeare, filósofos e outros escritores que vamos descobrindo na duração do texto. As autorias não são reveladas, vale o repertório de cada um. Uma plagio comunicação assumida.
A satisfação do ator é nítida no palco, ele saboreia cada frase dita. Um projeto autoral que agrada o publico. Nada de extraordinário, apenas paixão e técnica de quem ama o ofício que escolheu.
Vejo um monólogo como o momento da carreira de um ator onde ele acredita que está maduro o suficiente para dominar o espetáculo. Nem sempre a convicção do ator é acolhida e coroada pelo publico. Nesse caso foi. Um diálogo bem sucedido entre conteúdo e forma num espetáculo onde a principal relação se dá através do texto e da arte de interpretar.
Infelizmente nem todo mundo está disposto a ver e ouvir.

FICHA TÉCNICA
Dramaturgia e direção: Elias Andreato – Programação visual: Elifas Andreato – Luz: Wagner Freire – Cenário: Rossi – Elenco: Elias Andreato

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