quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O DISCURSO DA CENOGRAFIA

(Projeto de Adolph Appia para cenário - foto divulgação)

O discurso da cenografia se impõe hoje, cada vez mais, ao negar a idéia de decoração, ou seja, a cenografia ao ultrapassar a função simplista de ornamentação cênica, têm se apresentado muito mais próxima à idéia de necessidade, prática ou plástica, para a composição da cena teatral.
Esta abordagem não é uma invenção da cena contemporânea, ao contrário, já foi anunciada desde os tempos de Adolph Appia (1862- 1928) e Edward Gorgon Craig (1872-1966) que valorizaram a tridimensionalidade da cena e se afastaram dos painéis bidimensionais criados pelos pintores que, na maioria das encenações, desenvolviam os cenários até então. Appia foi um divisor de águas na história da cenografia. Ele profetizou o palco moderno. Para ele, a organização do espaço fechado do palco é sempre tridimensional. Craig também se opôs ao cenário bidimensional. Ele compartilhava das idéias de Appia e, por ter realizado vários trabalhos, suas idéias foram mais difundidas.
A cenografia é um dos elementos cênicos que compõem o espetáculo. Não é uma arte independente, como tudo no teatro, deve estar de acordo, dialogar, com todos os outros elementos: o ator, a dramaturgia, a direção, a luz, a sonoplastia, o figurino, a maquiagem, etc. A cenografia, junto com o figurino e a iluminação, são os elementos que, principalmente, definem a estética do espetáculo, ou seja, a plasticidade da cena.
O teatro é uma arte, essencialmente, desenvolvida em grupo, portanto, o cenário também deve ser criado e desenvolvido pelo cenógrafo em total parceria com a equipe de criação, formada principalmente pelo diretor, iluminador e o figurinista. É o principal recurso cênico responsável para definir o ONDE do espetáculo, ou seja, é o cenário quem materializa o lugar da ação. Ele deve estar em total acordo com a linguagem do espetáculo, seja ela realista, simbólica, impressionista, surrealista ou contemporânea.

(Projeto de Gorgon Craig para cenário - foto divulgação)

O cenário está muito mais para a escultura e para a arquitetura do que para a pintura. A pintura é, por sua vez, apenas uma das artes utilizadas pelo cenógrafo na tentativa de criar o espaço tridimensional onde se dará o jogo dos atores que também são tridimensionais e estão em constante movimento.
A iluminação é uma das principais aliadas da cenografia. Pode ser inclusive o principal elemento que dará corpo e volume para a plasticidade do espetáculo. Na contemporaneidade existem inúmeras criações onde os efeitos causados pela luz constituem a própria cenografia.
A cenografia, como qualquer outro elemento cênico, é signo, ou seja, é informação visual, capaz de provocar uma leitura ao espectador antes mesmo de qualquer palavra ser pronunciada. Dessa forma, a cenografia deve ser criada levando em consideração que ela deverá “falar” a mesma língua que o texto, o figurino, a direção, etc.
Hoje também trabalhamos com outros conceitos aplicados á cenografia. O de Ambientação cênica é um exemplo. A cenografia é a composição resultante de um conjunto de cores, luz, forma, linhas e volumes, equilibrados e harmônicos em seu todo, e que criam movimentos, lugares e contrastes. Desta forma, o cenógrafo, como qualquer outro programador visual, deve dominar os elementos da linguagem visual para estabelecer a qualidade do seu discurso.

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