segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

CAFÉ COM GEORGE SADA

(George Sada - Foto de Bebel Ritzmann)

Passei seis meses esperando por este encontro. Fiz o convite ao George no início do segundo semestre de 2009. Não conseguimos coincidir um horário nas nossas agendas em todo este tempo. Finalmente no último sábado tive o prazer de receber George Sada para um café em casa. Com o alto astral de sempre, ele veio acompanhado do nosso querido amigo Humberto Gomes. Foram quatro horas de muito papo, muitas risadas, revelações e reafirmações. Nosso encontro tornou meu início de ano ainda mais prazeroso.
No quesito relações humanas, George conquistou unanimidade na simpatia de todos que se relacionam com ele. Não há quem não concorde que George é uma das raras criaturas no mundo que dominam o relacionamento interpessoal, que sempre soube tratar muito bem qualquer pessoa de quem dele se aproxima. Acredito que isto se deva principalmente ao fato de que ele sempre age impulsivamente movido pela paixão à vida e à arte com uma dose caprichada de generosidade ao próximo.
No campo profissional ele sempre teve muito pra mostrar e contar. É isso que pretende este texto que, carinhosamente, agora escrevo aqui no blog. Que ele receba minhas palavras como quem recebe uma homenagem. Que você leitor as receba como uma doce história que precisava ser ouvida. E que eu consiga escrevê-las com a mesma competência que ele caminha sobre os caminhos sinuosos desta vida que embala a todos nós.


(George recebendo o Troféu Gralha Azul por melhor direção em 2008 - foto divulgação)

UMA CARREIRA DE CONQUISTAS
Depois de cursar psicologia, período entre os anos de 1981 e 1985, George Sada, formou-se no curso de Artes Cênicas da antiga PUC/PR que mais tarde foi encampado pela Faculdade de Artes do Paraná, onde George se tornou coordenador do curso de artes cênicas, chefe do departamento de teatro e professor de interpretação em 1990. Sua atividade na FAP se estendeu até 1998.
Como ator ele traz no currículo mais de 40 espetáculos e, do início da carreira, lembra a importante influência transmitida por diretores como Lilian Fleury, Hugo Mengarelli, Edson Bueno e do colega de curso da época de faculdade, o Cleon Jaques. George fala também da importante marca que a diretora Mona Lazar, vinda do Rio de Janeiro, deixou na sua formação de ator, através do processo de montagem do espetáculo O EXERCÍCIO em 1999. Ainda não tive oportunidade de vê-lo em cena, porém na edição de 2010 do Festival de Curitiba, George estará no elenco da produção de XAROPE PARA ACABAR COM A TOSSE, espetáculo dirigido por Humberto Gomes que acontecerá nas dependências de uma farmácia no centro de Curitiba.
Como diretor já tive o prazer de assisti-lo algumas vezes, ele já assinou mais de 200 espetáculos somando as direções que desenvolveu na escola onde leciona e onde também é diretor, a Academia de Artes Cênicas Cena Hum.
No teatro, George também já atuou como figurinista, cenógrafo, maquiador e produtor. É um profissional competente, totalmente apaixonado pelo oficio, apaixonante e capaz de empolgar todos que estão ao seu lado. Sua carreira sempre foi motivada paixão, pelo sonho de ver o teatro como elemento multiplicador das idéias que brotavam dentro de si, como uma voz que sempre o impulsionava. Entre tantas habilidades e funções, ele ainda é professor de interpretação para os bailarinos da Escola de Dança do Teatro Guaíra e o responsável pelo desenvolvimento de roteiros para os espetáculos. Como funcionário do Teatro Guaíra, George trabalha desde 1990. Haja energia pra tanto. Assim como eu, ele também é uma pessoa viciada em trabalho, destas que bastam apenas 10 dias de férias para não mais agüentar a tranqüilidade e querer voltar correndo para o que realmente interessa.


(foto divulgação)

CENA HUM
A Academia de Artes Cênicas Cena Hum, escola fundada por George e dirigida por ele até hoje, ao lado do sócio Márcio Vegas, é o resultado de um investimento que dura mais de duas décadas, já que a escola começou a ser planejada mais de 06 anos antes de sua inauguração em 1995. Quem vê as atuais dependências da nova sede própria e o resultado das produções da escola não imagina que a escola iniciou as atividades com duas pequenas turmas, que somavam doze alunos e apenas dois professores. Hoje a escola emprega uma equipe de 30 profissionais, entre professores, funcionários administrativos e pedagógicos e inúmeras turmas de alunos somando mais de 250 matrículas. Tenho também o prazer de fazer parte da equipe de professores e poder exercer o delicioso ofício de lecionar interpretação para os alunos. É muito bom poder trabalhar dentro de um ambiente com astral tão leve e também conviver com uma equipe que sempre leva o trabalho tão à sério como na Cena Hum.
A nova sede, inaugurada no início do semestre passado, conta, entre outros espaços, com vários e amplos estúdios de aula, biblioteca, sala de áudio/visual, cantina, guarda roupa com mais de 5.000 peças e um teatro adaptável a diversos estilos de montagens.
Um bom exemplo para quem ainda duvida que não devíamos agir somente por princípios racionais é a própria história de como George fundou a escola. Ele conta que quando tomou definitivamente a decisão de abrir a escola, ainda não possuía nenhum capital investidor. Quando foi fechar o contrato de locação do prédio, tudo o que tinha no bolso era uma moeda de 25 centavos. A fixação pelo sonho de ver sua escola funcionando era tanta que nem mesmo a limitação financeira o impediu de vê-lo realizado.
Outra boa história que George nos conta emocionado, é o momento de escolher o nome da escola. Na véspera do dia em que a empresa seria aberta, ele ainda não tinha conseguido escolher um nome. A escolha veio durante a noite. No seu sonho, numa espécie de teste onde só ele estava sentado na platéia de um teatro e esperando para ser chamado, o homem que estava sentado sozinho no palco lhe disse, um segundo antes dele acordar: “venha para a cena um!”. Depois disso, a escolha de colocar o H no nome, veio principalmente pela vontade de dizer que o trabalho que estava disposto a desenvolver seria totalmente preocupado com o lado humano das relações.
Além dos cursos de oficina e de iniciação teatral, a escola oferece nesses 14 anos de atividades o curso de formação de atores com duração total de 3 anos. Vários atores que hoje estão no mercado nacional se formaram pela escola. Da primeira turma, George lembra, entre outros, os nomes de Laura Haddad e de Luis Brambilla. Para 2010 a escola também abrirá novas turmas diante da grande procura no final do semestre.
No final de cada ano a escola entrega o Troféu Cena Hum para os melhores do ano numa festa bastante badalada.
Sobre os projetos para 2010 e as novas produções do núcleo profissional da Cena Hum, George prepara algumas surpresas, entre elas um musical sobre Elis Regina, espetáculo que já está em pré-produção. Neste ano também, o espaço teatro da escola também será aberto para outras temporadas que não sejam apenas para as mostras de conclusão dos cursos da escola.
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Fico muito feliz em poder falar deste artista guerreiro que é o George, de poder estar ao lado de uma pessoa tão querida, que sempre soube valorizar o que deveria ser priorizado em qualquer relação profissional: a relação humana, solo fértil de onde sempre brota as melhores e mais prazerosas parcerias.
Salve George!
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Para quem ainda não conhece a Cena Hum, mas gostaria de fazer uma visita, o endereço é Rua Senador Xavier da Silva, 166, próximo ao Shopping Muller. Maiores informações pelo telefone (41) 3333-0975.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

BOA NOVA NO PEDAÇO: Alexandre França

(Alexandre França clicado por Albert Nane)

Todo mundo sempre soube que eu adoro falar bem dos artistas e trabalhos que eu me relaciono e admiro. Reconheço em mim a virtude de admirar artistas e trabalhos diferentes entre si, desde que sejam sempre de boa qualidade. Estilo nunca me aprisionou muito. Gosto de transitar, mas ao mesmo tempo de também permanecer. Isto sempre ocorre quando acredito realmente em algo. Distingo sempre entre aquilo que é bom daquilo que é ruim, nunca entre aquilo que é certo daquilo que é errado. Neste ano de 2010 continuarei valorizando o trabalho dos artistas que tem o que mostrar. Profissionais que admiro e que sempre estou por perto, mesmo que seja só para admirar. A lista é grande. Escolhi começar por Alexandre França.
É ótimo poder lembrar que vem surgindo em Curitiba uma nova geração de dramaturgos. Alexandre França, dramaturgo e músico, é uma boa lembrança de um representante desses autores. É ótimo também lembrar que esses novos dramaturgos vem diretamente ao encontro dos interesses dos novos encenadores de plantão. Um bom texto sempre é muito sonhado pelos profissionais do teatro.
Admiro muito o trabalho dos bons dramaturgos, com linguagens distintas, com estilos e estruturas interessantes. Dos dramaturgos já veteranos em Curitiba cito, entre outros tão talentosos, o nome de Sueli Araujo e Paulo Biscaia que sempre me fascinaram pelo trabalho autoral, cada um no seu estilo, mas ambos geniais no que acreditam. Uma boa dramaturgia sempre influiu muito na qualidade final do espetáculo.
Alexandre França é um autor que veio da música, já que esta foi a primeira atividade profissional que exerceu. Ele já teve dois CDs gravados e produzidos, A SOLIDÃO NÃO MATA, DÁ A IDÉIA em 2006 e MUSICA DE APARTAMENTO em 2009. Na área da música, França tem um trabalho bem bacana e sempre está muito bem acompanhado de excelentes músicos.
Tenho acompanhado seus textos desde o primeiro a ser encenado em 2007 com as atrizes Helena Portela e Verônica Rodrigues, UM IDIOTA DE PRESENTE, quando fui convidado para fazer o figurino e o cenário desse e do próximo espetáculo, FINAL DO MÊS com Claudete Pereira Jorge e Helena Portela no elenco e Verônica Rodrigues na produção. Depois disso, o França escreveu alguns textos, apresentados em leituras dramáticas ou apresentações que não pude estar presente e também outros textos que tive a oportunidade de ler. Cada um tem suas características e qualidades específicas. Vi também GINA, monólogo escrito para a triz Maia Piva. Seus textos estão cada vez melhores. Nos últimos que li, ainda não encenados, vi novos apontamentos na estrutura e no estilo, novidades que vieram para amadurecer muito e deixar suas tramas ainda mais sofisticadas.
Fique de olho.
Vida longa a Letra e a Música de Alexandre França.
Os artistas e o público curitibano agradecem.