domingo, 28 de fevereiro de 2010

UM HOMEM SEM MEMÓRIA

(O ator Luiz Bertazzo durante a performance que tem por objetivo coletar as memórias alheias)


O HOMEM PIANO – UMA INSTALAÇÃO PARA A MEMÓRIA é o novo trabalho da Ciasenhas de teatro. Premiado com o Miriam Muniz da FUNARTE, o espetáculo está em fase de produção.
Já começaram as performances onde o ator Luiz Bertazzo, sustentado pelo equipamento desenvolvido por Ary Giordani, coleta as memórias, doadas anonimamente pelas pessoas, nas ações realizadas em praças e outros espaços públicos da cidade.
O espaço das performances foi criado coletivamente pela diretora Sueli Araujo, por mim (que assinarei o cenário do espetáculo) e pela figurinista e pesquisadora Amábilis de Jesus (responsável pelo figurino e consultoria de espaço).
HOMEM PIANO se desenvolve a partir do conceito de Instalação, proveniente das artes visuais. É a continuação do trabalho iniciado no projeto Narrativas Urbanas de 2008 e quem explica melhor a trajetória desenvolvida até aqui é o próprio ator Luiz Bertazzo: “Em 2008 a Cia senhas de Teatro estava realizando o projeto Narrativas Urbanas - interferências e contaminações. Provocados a encontrar um fato espetacularizado pela mídia, os atores foram atrás de suas notícias, eu então me deparei com este Homem encharcado, sem nenhuma identificação, sem nenhum documento, sem nenhuma memória, mas que se revelou um exímio pianista, assim se resume a história do "Homem Piano"(como foi apelidado pela mídia). Dentro desta narrativa minha busca incessante pelos silêncios deste homem sem memórias, me fez em 2009 correr para a sede da Cia. afim de me apresentar em um pequeno monólogo para a XVI Mostra de Teatro da FAP (Faculdade de Artes do Paraná)”.
Nesta nova fase do trabalho, como justificaria o próprio conceito de instalação, o público será um fator determinante para o desenrolar dos acontecimentos. As apresentações acontecerão na própria sede da Ciasenhas que será totalmente preparada e ambientada para o evento. A data prevista para a estréia é o final do mês de abril.
É com muito orgulho que integro a equipe de criação e posso concretizar o antigo desejo de trabalhar com o Bertazzo, meu amigo querido e talentoso, com a amiga Amábilis, minha sempre professora, e com toda a competente equipe da Ciasenhas de teatro que sempre admirei muito e que já falei algumas vezes aqui no blog. Além dos artistas já citados, compões ainda a equipe Márcia Moraes e Fábia Regina.
Para quem quiser acompanhar o desenvolvimento do HOMEM PIANO, é só ficar conectado no blog HTTP://homempiano.blogspot.com/ . Além das informações sobre o projeto, o blog publica os depoimentos do ator sobre a experiência de coletar as memórias alheias.
Por enquanto, a gente poderá se encontrar em qualquer espaço público da cidade e a qualquer hora do dia.
Até lá.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

PESSOA, PREGO E PELÚCIA

(foto de Leco de Souza)

Muitas vezes me pergunto aonde o teatro quer chegar. Geralmente isso acontece quando saio de um teatro com a sensação de que o espetáculo ainda não terminou dentro de mim. O movimento interno, provocado por questões ou emoções causadas por aquilo que vi em cena pode ir do estranhamento ao riso, da dúvida ao descobrimento e da angústia à satisfação. O RAPAZ E A RAPARIGA – PEÇA DE PESSOA, PREGO E PELÚCIA foi um destes espetáculos que me colocou neste lugar de reflexão.
Vi o espetáculo no último dia da primeira semana da temporada que acontece até o dia 14 de março no teatro Novelas Curitibanas, sempre as 20h. A produção é uma realização da Couve-flor Microcumunidade Artística Mundial com financiamento da Fundação Cultural de Curitiba. O processo criativo e colaborativo se deu entre os artistas Cândida Monte, Elizabete Finger, Gustavo Bittencourt, Neto Machado, Ricardo Marinelli e Well Gutti.
A inspiração para o trabalho veio da obra do cineasta e autor Tim Burton. O ponto de partida para o início da criação foi o livro A morte melancólica do rapaz ostra e outras histórias. Vemos em cena quatro discursos diferentes, quatro personagens que se entrecortam e que são apresentados a partir de uma estética desenvolvida sobre referências góticas, surreais e bem humoradas. São quatro argumentos metafísicos, quatro universos fantásticos, construídos a partir da contaminação que as idéias de Tim Burton influenciaram no processo criativo dos artistas.
Tudo parece ter sido desenvolvido a partir da linguagem da performance que o grupo se apropriou de forma muito eficaz e, apesar de ter sido uma linguagem surgida ainda nos anos 60, o espetáculo traz um frescor de algo inusitado.
Como falar mais sobre O RAPAZ E A RAPARIGA sem estragar a sensação de descoberta para quem ainda verá o espetáculo? Não saberia responder. Apenas acho que esta é uma aventura que toda pessoa interessada em teatro deveria experimentar e descobrir por si própria os códigos que a levarão à uma interpretação pessoal das cenas apresentadas na mais recente empreitada do Couve-flor.
Vale a pena ir. Eu fui e gostei muito. Se você for, deixe a expectativa e os preconceitos em casa. Permita-se a experimentar e, se estiver conectado com a arte contemporânea, tenho certeza de que vai ter uma boa experiência.
Boa viagem!
(foto de Leco de Souza)

FICHA TÉCNICA:
Uma criação de e com: Cândida Monte, Elisabete Finger, Gustavo Bitencourt, Neto Machado, Ricardo Marinelli e Well Guiti - Apoio à pesquisa dramatúrgica: Jorge Alencar - Consultoria de materiais de cena: Amábilis de Jesus - Designer de luz: Fábia Guimarães - Conceito visual e material gráfico: Atelier Utrabo Monteiro - Produção: SELO - Produção e Gestão Cultural - Projeto: Couve-flor Minicomunidade Artística Mundial, associado à Aspart - Incentivo: Lei Municipal de Incentivo à Cultura, Fundação Cultural de Curitiba, Prefeitura Municipal de Curitiba

IMPORTANTE: O ingresso no Novelas Curitibanas não é mais uma lata de leite em pó como estamos acostumados. Agora a inteira custa R$10,00 e a meia entrada R$5,00, super acessível. O horário também mudou, agora todas as sessões, de quinta a domingo, acontecem sempre as 20h.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

UM HOMEM CÃO


A Caixa Cultural apresenta nos próximos dias 19, 20 e 21 de Fevereiro o espetáculo THE CACHORRO MANCO SHOW, solo do grande e querido ator Leandro Daniel Colombo. Velho conhecido do público curitibano, principalmente pelo trabalho desenvolvido com a companhia Vigor Mortis, Leandro Daniel é uma das duas melhores coisas do espetáculo. A outra é o texto de Fábio Mendes.
Vi o espetáculo em Novembro de 2008 quando esteve em cartaz no teatro Barracão em Cena de Curitiba. Aquela temporada aconteceu logo depois da estréia no Teatro Municipal Maria Clara Machado no Rio de Janeiro. Depois disso, o espetáculo ainda fez turnês em Brasília, novamente no Rio, em Lisboa e São Paulo.
O espetáculo já traz no currículo alguns prêmios, indicações e ótimas críticas. Leandro foi indicado ao Gralha Azul de Curitiba como melhor ator em 2008 e ao 3º. Prêmio da revista Quem como melhor ator em 2009 ao lado de grandes nomes do teatro nacional como Antônio Fagundes, por exemplo. Fábio Mendes ganhou o Prêmio Luso-Brasileiro de Dramaturgia Antonio José da Silva e o Prêmio APCA de melhor autor em 2009.
Quem ainda não viu não pode perder esta próxima oportunidade ofertada pela Caixa Cultural. Depois disto, THE CACHORRO MANCO SHOW ainda poderá ser visto em pouquíssimas e disputadíssimas apresentações em Março no Festival de Curitiba.
Fica a dica. Vá ver e depois me conte. Se já viu, veja de novo. Acredito que um bom espetáculo, assim como um bom vinho, quanto mais envelhece melhor fica.

(foto de Guga Melgar)

SOBRE O ESPETÁCULO
"O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza;
o roubar com pouco faz os piratas,
o roubar com muito, os Alexandres".
(Fábio Mendes)

Um mendigo. Uma metáfora dos excluídos. O homem-cão oferece sua narração em troca de um pouco de ração na procura de um dono. Uma comédia dramática, o stand-up de um cachorro que faz seu show pelas margens da sociedade.
O espetáculo traz pouquíssimos recursos cênicos, faz valer a relação texto x interpretação. Ótima opção pra quem procura na dramaturgia a possibilidade de ver uma grande atuação.
Na ficha técnica, além do autor Fábio Mendes e do ator Leandro Daniel, o espetáculo conta com a direção de Moacir Chaves, cenário de Fernando Mello da Costa e Rostand Albuquerque, figurino de Inês Salgado, iluminação de Aurélio de Simoni, direção musical de Tato Taborda, programação visual de Maurício Grecco, fotos de Guga Melgar, assistência de direção de Diego Molina e direção de produção de Paulo Felisbino.
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SERVIÇO: THE CACHORRO MANCO SHOW - com Leandro Daniel Colombo – Dias 19, 20 e 21 de Fevereiro no Teatro da Caixa Cultural em Curitiba. Sexta e sábado as 21h e domingo as 19h.