domingo, 26 de setembro de 2010

A MENTIRA POLÍTICA, O FINGIMENTO ARTÍSTICO

Nesta postagem, publico o texto feito pela jornalista Luciana Romagmolli para o Caderno G do jornal Gazetta do Povo de Curitiba no dia de estreia do espetáculo, 16/09/2010. As fotos são de Mariana Brandão.


"Charlotte Corday (1768-1793), filha de uma família monárquica e simpatizante dos girondinos, foi guilhotinada quatro dias depois de cravar uma lâmina no peito de Jean-Paul Marat, porta-voz da ala mais radical da Revolução Francesa, o partido jacobino. Jacques-Louis David (1748-1825) preparou a pele dele (castigada por uma doença crônica) para o funeral e o imortalizou na tela A Morte de Marat. Pintor da República, David retratou com suas tintas também a ida de Maria Antonieta à decapitação.
Opostos por suas visões políticas, em um momento em que se desenhava a polarização entre direita e esquerda, Charlotte e David se enfrentam na imaginação do dramaturgo curitibano Alexandre França (Habituê e Final do Mês). O encontro fictício entre os dois personagens históricos acontece no espetáculo Mentira!, em cartaz a partir de hoje no Teatro Cena Hum.

É a primeira montagem da peça a chegar ao palco, mas não a primeira tentativa. Havia planos de o próprio autor dirigir o texto em um espetáculo que estrearia no Festival de Curitiba deste ano, mas o projeto não vingou. Quem ora assume a direção é Paulo Vinícius, estreando na função – ao menos dentro dos limites curitibanos.
Há seis anos na cidade, Paulo Vinícius acumula trabalhos como ator (em Chiclete&Som, dirigido por Nina Rosa Sá), figurinista (Manson Superstar, da Vigor Mortis, e Noite de Reis, que Mauro Za­­­­nat­­­­ta estreará em outubro) e cenógrafo (Homem Piano, da CiaSenhas), além de dar aulas de interpretação na Cena Hum. Antes, vivia em São Paulo, onde fazia a direção de espetáculos.
O diretor adaptou o texto às suas pretensões estéticas, identificadas com o pop e o kitsch, o circo e o carnaval, em uma “pegada mambembe”. O debate político está introjetado na encenação, sem que isso tenha sido pensado em coincidência com o período eleitoral atual. “A peça fala de política pela metáfora”, diz. “Através da mentira, discute o discurso político, a expressão artística e o fazer teatral, o fingimento do ator ao interpretar o personagem. A mentira é tomada nesse sentido amplo.”


Ao criar o cenário e os figurinos de Mentira!, Paulo Vinícius deu à figura clássica francesa (com suas imponentes perucas) um tratamento contemporâneo, misturando estampas de zebra com fuxico, e abusando das cores e texturas. Foi uma maneira de interpretar os apontamentos sobre propaganda contidos no texto, inclusive com referências a marcas de produtos industriais. Das embalagens comerciais ao pop de Andy Warhol, das misturas ex­­cessivas de materiais ao kitsch, o caminho cumprido aproximou a montagem de uma linguagem que o diretor considera barroca.
Faltou Paulo Vinícius atuar. Essa parte, o diretor deixa com um grupo de quatro atores profissionais: Fabiano Amorim e Luiz Brambila, Verônica Rodrigues e Lubieska Berg. Os dois homens se revezam na pele de Jacques-Louis David, enquando as duas garotas fazem Charlotte Corday. Não bastasse compartilhar os personagens, o elenco também entra em cena desnudado desses papéis, para discutir as posições políticas e o rumo que a peça deve tomar. Oscila entre dois registros: a presença cênica e o personagem construído, naquele tom de exagero dramático do “teatrão”. "


O link para ver a publicação original é: http://www.gazetadopovo.com.br/cadernog/conteudo.phtml?tl=1&id=1047083&tit=A-mentira-politica-o-fingimento-artistico


SERVIÇO: MENTIRA! No Teatro Cena Hum (R. Sem. Xavier da Silva, 66, (41) 41 3333-0975. Texto de Alexandre França. Direção de Paulo Vinícius. Com Fabiano Amorim, Leandro Leal, Lubieska Berg, Luiz Brambila e Verônica Rodrigues. Quinta a sábado, às 21 horas, e domingo, às 19 horas. Até 3 de outubro.



Um comentário:

Melissa disse...

trabalho lindo!!!!!!!!!!!! amei!!!!
um beijo imenso pra você!!