terça-feira, 22 de janeiro de 2013

A ASSINATURA DO ARTISTA NO TEATRO CONTEMPORÂNEO

(Espetáculo OXIGÊNIO da Cia Brasileira de Teatro - Foto de Ale Haro)

A característica que mais me interessa no trabalho dos artistas de teatro na contemporaneidade é a autoria. Um trabalho é efetivamente interessante quando o artista imprime na obra aquilo que realmente é seu. Para o espectador, um trabalho é autoral quando conseguimos, principalmente, distingui-lo de tudo aquilo que já vimos em teatro. Quando isso acontece o prazer já está garantido, e mesmo quando ainda encontramos um trabalho em processo, que ainda não está maduro, o prazer de ver o universo específico de cada coletivo vale a experiência teatral.

Mais vale uma criação em desenvolvimento do que uma reprodução bem acabada. Enquanto espectador, comigo sempre foi assim. Não que eu não valorize o acabamento, muito pelo contrário, mas só a técnica bem aplicada não responde ao desejo do homem contemporâneo, tão acostumado com as tecnologias do dia a dia e já habituado a ver inúmeras novidades nas artes contemporâneas.

(Espetáculo CIRCO NEGRO da CiaSenhas de Teatro)
 
O teatro vai continuar sendo artesanal, diferentemente do cinema que é estruturalmente tecnológico, sem problemas. Talvez a principal característica de aproximação do teatro do público seja realmente o humano que existe na construção artística. Entenda aqui o termo humano como distanciamento do termo tecnológico. Porém, dentro das suas especificidades técnicas e artísticas, não nos contentamos mais com repetições de fórmulas antigas de representação. Nós, públicos e artistas, queremos mais.
 
            Distinguir um trabalho e diferenciá-lo de tudo o que já vimos, não implica na ausência de qualquer reconhecimento de referências presentes nele, não é isso que desejamos ver, principalmente numa época em que quase tudo já foi inventado. A autoria está na maneira como cada artista devolve ao mundo todas as referências que ele se apropriou e na forma como ele apresenta suas questões ou conclui suas indagações.

(Espetáculo LONGE - SOBRE AMOR, SOBRE DISTÂNCIAS do Grupo Obragem - Foto de Elenize Desgeniski)
 
            Enquanto artistas, precisamos propor um discurso que não seja necessariamente tão reconhecível aos olhos do público. É importante estimular o estreitamento da relação espectador X obra de arte. É importante permitir que o espectador experimente outras camadas, mais abertas ao entendimento, diferentes das fórmulas tão massificadas no teatro comercial.

            A autoria talvez tenha sido o elemento de maior peso, identificado no trabalho da Companhia Brasileira de Teatro, dirigida por Marcio Abreu, que hoje tem seus trabalhos apresentados em várias cidades do Brasil e outros lugares do mundo. Sem dúvida, o grande sucesso alcançado pela Cia Brasileira está na forma autoral e criativa com que os trabalhos sempre foram desenvolvidos.
 
(Espetáculo A MEIA NOITE LEVAREI TEU CADÁVER da Vigor Mortis - Foto de Marco Novack)
 
            Em Curitiba, desde 2004, ano que me radiquei na cidade, tenho acompanhado o trabalhos de vários artistas, grupos e companhias. Dentre eles, identifiquei em alguns o desenvolvimento de uma linguagem teatral autoral, ímpar e particular. É sobre essas companhias que agora, depois de 08 anos vivendo aqui, quero falar.

A tentativa será de propor um olhar analítico e sintético ao mesmo tempo. Para tanto, selecionei dentre todos os coletivos artísticos em atividade por aqui, 03 companhias maduras, que já percorreram mais de uma década de desenvolvimento e que hoje representam com muito estilo o melhor teatro produzido em Curitiba. Claro que, de certa forma, meu olhar é também de dentro para fora, uma vez que também atuei como colaborador nas 03 companhias selecionadas e que, portanto, também acompanhei boa parte do desenvolvimento dos seus respectivos discursos.

            As companhias escolhidas para esta análise foram: CiaSenhas de Teatro, dirigida por Sueli Araujo, Grupo Obragem, dirigido por Olga Nenevê e Vigor Mortis, dirigida por Paulo Biscaia Filho. Tenho certeza de que o trabalho produzido por estes três grupos, aliados ao trabalho produzido por outras companhias e diretores de peso e qualidade, estimulam o desenvolvimento do teatro local bem como a divulgação nacional do teatro paranaense e de seu reconhecimento.

           

 

CiaSenhas de Teatro

Dirigida por Sueli Araujo, a CiaSenhas completou 13 anos de trabalhos consecutivos em 2012. Um dos focos principais é o trabalho do ator-criador, bem como o desenvolvimento de uma dramaturgia original. O trabalho em grupo e a comunicação com diferentes plateias, também são praticas desenvolvidas nos trabalhos dentro da companhia. A pesquisa da CiaSenhas revelou uma forte preocupação com o desenvolvimento da narrativa cênica. O jogo teatral, a construção do corpo expressivo e os espaços de relação com a plateias foram elementos presentes trabalhos.

Os trabalhos mais recentes da companhia foram DELICADAS EMBALAGENS (2008), HOMEM PIANO – UMA INSTALAÇÃO PARA A MEMÓRIA (2010), CONCERTO PARA RAMEIRINHAS (2011) e CIRCO NEGRO (2012).

Além da produção de espetáculos, a CiaSenhas de Teatro dedica-se também ao intercâmbio teatral, promovendo ações de diálogos entre diferentes artistas do Paraná e de outros Estrados brasileiros. Também é uma realização da companhia a Mostra Cena Breve – A Linguagem dos Grupos de Teatro, que em 2012 chegou a sua oitava edição.

Os trabalhos que desenvolvi dentro da companhia foram os cenários para os espetáculos HOMEM PIANO, CONCERTO PARA RAMEIRINHAS e CIRCO NEGRO.

Maiores informações sobre a companhia podem ser obtidas através do site www.ciasenhas.art.br

           

           

Grupo Obragem

            Dirigido por Olga Nenevê, o Grupo Obragem completou 10 anos. As principais referências da companhia são as artes visuais e a dança contemporânea, além da Literatura e do Cinema. A autoria foi o elemento presente em todos os trabalhos que vi do Grupo Obragem, desde 2004.

            A dramaturgia textual própria é outro elemento de muita importância no trabalho do grupo. Também desenvolvido por Olga Nenevê, o texto é escrito de forma que a sua estrutura potencialize a emoção e se relacione com o ponto de partida dos trabalhos: o corpo e seus movimentos. 

            As imagens são pensadas como elementos de referência e composição para as cenas, tanto para o corpo dos atores quanto para a construção visual do espetáculo. Quem assina os figurinos e os cenários dos espetáculos é Eduardo Giacomini, ator, cenógrafo, figurinista e produtor no grupo.

            Os trabalhos recentes foram PASSOS (2008), O INVENTÁRIO DE NADA BENJAMIM (2009), ZAQUEU (2010), AS TRAMÓIAS DE JOSÉ NA CIDADE LABIRINTICA (2012) e LONGE – SOBRE O AMOR SOBRE, DISTÂNCIAS (2012).

            Além de espectador frequente dos trabalhos do grupo, em 2009 participei como ator do espetáculo infantil MMM – A MONTANHA DO MEIO DO MUNDO, um trabalho que, além de Curitiba, circulou pelos Estados de Santa Catarina e São Paulo.

            O Grupo Obragem, em 2012, inaugurou o seu próprio Espaço em Curitiba. Maiores informações sobre eles estão em www.grupoobragemdeteatro.com.br


 

 

Companhia Vigor Mortis

            Dirigida por Paulo Biscaia Filho, a Vigor Mortis tem, basicamente, o Grand Guignol (Teatro de horror de Paris) como foco principal. A companhia adota um gênero específico, utilizando a violência e o naturalismo como meios narrativos, explícitos na encenação de Paulo Biscaia. O trabalho da companhia é extremamente autoral, não apenas como dramaturgia textual, mas também, e principalmente, pela encenação do Paulo, que mistura o teatro com outras linguagens de identificação, como os quadrinhos, o cinema e as artes urbanas.
 
            Em 2012 a Companhia completou 15 anos de atividades. Entre os principais espetáculos estão MORGUE STORY – SANGUE, BAIACU E QUADRINHOS (2004), HITCHCOCK BLONDE (2008), NERVO CRANIANO ZERO (2009), MANSON SUPERSTAR (2009), SEANCE – AS ALGÊMAS DE HOUDINI (2011) e A MEIA NOITE LEVAREI TEU CADÁVER (2012).
 

            No cinema, os filmes produzidos pela Vigor Mortis foram o longa metragem MORGUE STORY – SANGUE, BAIACU E QUADRINHOS, uma trilogia de curtas baseados em contos de Edgar Allan Poe chamada NEVERMORE - TRÊS PESADELOS E UM DELÍRIO e o longa metragem NERVO CRANIANO ZERO.
 

            Além do teatro e cinema, a companhia também publica livros como os quadrinhos VIGOR MORTIS COMICS e a coletânea de textos dramatúrgicos PALCOS DE SANGUE, escritos por Paulo Biscaia Filho.
 

            Na Vigor Mortis, criei o cenário do espetáculo NERVO CRANIANO ZERO, cenário e figurino para MANSON SUPERSTAR, cenário e figurino para SEANCE e para A MEIA NOITE LEVAREI TEU CADÁVER. Também atuei como diretor de arte no longa metragem NERVO CRANIANO ZERO.
 

            Maiores informações sobre a Vigor Mortis estão em www.vigormortis.com.br  

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